Encarando meus Medos!
Ana Fontes
na foto com 42 anos
Aqui estou! Tomar decisões sozinha? Nossa!!!
O medo das consequências sempre me assolava.
O medo das consequências sempre me assolava.
E aqui estou eu numa terra estranha sem falar outra língua que não o português. Estou na Argélia, um país africano de costumes muito estranho e crença religiosa muçulmana.
O choque já foi no aeroporto da capital, Argel. Ali peguei um ônibus caindo aos pedaços e que me levou até o alojamento no Canteiro de Obras onde eu fiquei.
Foram algumas horas de viagem por paisagens desérticas, uma casa aqui e outra acolá. A ansiedade tomava conta do meu ser com tudo aquilo que via. Paisagens e crianças brincando, uma semelhança com as brincadeiras de nossas crianças, tanto nas cidades como na periferia ou favelas. Porém uma coisa me chamou a atenção, crianças evacuando e urinando nas ruas em meio as brincadeiras. Arriavam as calças e depois as vestiam sem limpeza alguma, sem cerimônia, parecia um hábito muito normal.
E a viagem continuava!
Chegamos a noite no alojamento.
Primeiro dia de minha viagem. Mal tive tempo de desfazer a mala e fui levada para uma festa que acontecia na casa de uma das famílias que lá estavam. E outra vez, eu enfrentando os meus medos! Só, no meio de pessoas completamente estranhas, apesar de brasileiros.
No Canteiro não tinha telefone, nem celular, ainda não existia no Brasil. Isso aconteceu pelos anos de 1983. Ah! Esqueci de dizer que na Argélia tem uma diferença no fuso horário de 4 horas, então quando lá cheguei ainda era de madrugada aqui no Brasil. E a comunicação com o Brasil era muito difícil.
Segundo dia dessa experiência inusitada: ao amanhecer fui tomar o café da manhã no refeitório do alojamento. Apenas os funcionários que não estavam com suas famílias, assim como eu, faziam as refeições nesse local. E, assim foram passando os dias, paulatinamente. Era um misto de ansiedade, medo e alegria. Encarava os meus medos e descobria que era capaz de tomar decisões do meu destino sem a interferência de outrem. Deixei marido e filhos no Brasil e mergulhei nessa aventura. Era eu, sozinha, apesar dos medos me sentia bem. Percebi que podia encará-los.
Uma aventura e tanto!
Fui desenvolvendo meu trabalho a cada dia, enfrentando meus medos e adversidades.
Ah! Vim dirigir a escola do Canteiro de Obras para os filhos dos brasileiros. Sou Pedagoga - Administradora Escolar. Acho que me sai bem, pois já era formada a alguns anos e nunca tinha exercido a profissão. Foi uma grande experiência, um grande aprendizado, tanto profissional como pessoal.
Foram 60 dias em que encarei meus medos e uma rotina completamente diferente. Bem diferente das responsabilidades como esposa, mãe e "dona de casa". Minha responsabilidade era comigo e com meu trabalho.
Bate a saudade? Bate, confesso. Mas é algo diferente você não é escravo da mesma rotina estafante de gerir uma casa. Teu lado profissional aflora com muita intensidade até parece que você é outra pessoa.
Desabafo: o mundo é cruel com a mulher que apenas se dedica ao lar. Você fica estagnada e rotulada "do lar" como profissão. Você tem medos também quando exerce a profissão, "do lar". Ai aparecem as frustrações, você deixa de ser a comandante de si mesma, da sua vida. Passa a fazer e viver em função do marido dos filhos e da casa.
Filhos? Alçam voo, quando menos espera.
Você envelhece, o marido envelhece. E os medos? Tem que encará-los novamente. São tantos e tão diferentes, e enfrenta-os dia após dia.
Hoje com os meus 78 anos, enfrentando mais um enorme medo, marido com 83 anos vindo de uma internação de 25 dias - COVID-19(2020) enfrentando as consequências dessa doença e tocando a vida pois é vida que segue.
Que bom estar viva e poder escrever para vocês. Contar sobre meus medos...
A Vida é recheada de medos! São eles que nos impulsionam a viver.
VIVER é uma tremenda aventura radical!
Atualizado em 01/08/2020
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